sábado, 30 de março de 2013

Moinhos do Convento da Serra – I Parte


Os engenhos de moagem eram, na Idade Moderna , pertença quase exclusiva dos senhorios (nobres ou eclesiásticos) que os recebiam por mercês do rei, segundo Mattoso (1993a). Eram uma boa fonte de rendimento, devido à cobrança da maquia, que era de 1/14, segundo o autor citado.
O Convento da Serra, à semelhança de muitas casas monásticas, foi possuidor de bens doados pelos monarcas, nomeadamente dois moinhos na margem da Ribeira de Muge. Contudo, importa primeiro contextualizar um pouco esta casa.

Imagem 1: Pórtico manuelino do Convento da Serra. Último vestígio construído deste convento dominicano.

Tendo origem, lendária, no reinado de D. Afonso Henriques, com a descoberta de uma imagem da virgem no meio da serra e consequente construção de uma pequena ermida. Contudo, este mesmo culto terá uma maior projeção no final do séc. XV e séc. XVI, com as estadas da corte em Almeirim. A pequena ermida dá lugar a um convento, dedicado a Nossa Senhora da Serra, onde passaram a viver Frandes Dominicanos.
Ao observar a cartografia já do séc. XVIII, podem retirar-se algumas ilações.

Imagem 2: "Plantas da Terra de Almeirim" (extrato).

Neste primeiro mapa, observamos o Convento da Serra, com a sua área demarcada. Contudo, sabemos que naquele local, onde não existem cursos de água, não poderiam existir moinhos. No entanto, junto à Ribeira de Muge, encontramos três engenhos. Os dois mais a jusante foram os doados ao Convento da Serra. São designados aqui como o “Moinho dos Frades” e o “Moinho dos Vecos”.

Imagem 3: "Carta Geográfica das Montarias da Villa de Santarem" (extrato).

Neste segundo mapa, datado de 1775, podemos encontrar ambos os engenhos em questão sob a designação de “Moinho dos Frades”. Acima, isolado, encontramos o Convento da Serra, na confluência de vários caminhos.
Aquando da extinção das ordens religiosas, em 1834, e da incorporação na Fazenda Pública dos seus bens, os frades do Convento da Serra vêm o seu convento conhecer este destino. Contudo, já se tinham desfeito dos seus engenhos na ribeira, quando em 1806 os houveram hipotecado, como refere Custódio (2008).
Estes engenhos não chegaram aos nossos dias. Contudo, ficaram conhecidos como os moinhos de Baixo e do Meio aqueles que se encontravam já no território da atual freguesia de Muge, como nos mostra o cartograma abaixo.

Imagem 4: Carta Militar de Portugal, folha 378 – Raposa. (extrato).

As localizações dos engenhos são da nossa autoria. Se do Moinho do Meio temos a certeza da sua localização, do Moinho de Baixo nem tanto. Contudo, pela observação das imagens 2 e 3, podemos chegar à conclusão que se encontrava entre o Moinho do Meio e os Caniçais. Voltaremos a esta questão na parte II.

Fontes e bibliografia:
(1775). Carta Geografica das Montarias da Villa de Santarem
(s/d). Plantas da Terra de Almeirim
Custódio, Jorge (2008). Almeirim: Cronologia Histórica. S/l: Edição CMA e Edições Cosmos.
Mattoso, José – dir. (1993a). História de Portugal: no alvorecer da modernidade (1480-1620). Vol. 3. S/l: Círculo de Leitores.
Tomé, Samuel (2012). O Património Molinológico como fator identitário e vetor do desenvolvimento económico: o caso da Ribeira de Muge. Dissertação de mestrado em Gestão e Programação do Património Cultural, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. (policop.)
Vasconcellos, Frazão de (1924). “A sepultura de Fernão Soares”, separata da Arqueologia e História, vol. III. Lisboa: Tipografia do Comércio.
Vermelho, José (1956). Entre Olivais e Vinhedos. Porto: Edição Secção dos Serviços Culturais da Casa do Povo de Almeirim.