Os assentos paroquiais constituem uma privilegiada forma
de conhecer as sociedades de séculos passados. Quem eram os mais importantes,
mortalidade, deslocações entre localidades, compadrios. Por ser uma paróquia
muito isolada e rural, talvez não houvesse todo o empenho e brio nos assentos
da Paróquia de Santo António da Raposa que outras terão. Contudo, também
conseguimos através destes, fazer algumas leituras da sociedade do séc. XVIII
nesta freguesia do médio curso da Ribeira de Muge.
Já nos detivemos em Leonarda Maria e no
casal Diogo Vieira e Maria Nunes. Hoje poderemos apresentar um
outro casal: António Roiz (ou Rodrigues) e Maria Cordeira. Contudo, os registos
sobre estes são de tal ordem, que decidimos criar uma série de publicações
sobre os mesmos.
À
semelhança de outros, não temos acesso ao registo de casamento de António Roiz
e Maria Cordeira. Deduzimos que já seriam casados em 1711, quando nos surge o
assento de batismo de um rapaz seu filho. Contudo, não podemos sequer afirmar
que este seria o seu filho mais velho, visto que os assentos de batismo, que
tenhamos conhecimento, só começaram a ser efetuados nesse mesmo ano, sendo esse
o segundo do livro.
Em
1515, mais precisamente a 19 de agosto, morre António Roiz Manzorro, morador no
Moinho dos Gagos (onde também vivia António Roiz e Maria Cordeira), sendo
sepultado na Igreja de Santa Maria de Marvila, em Santarém. O assento menciona
que este era casado com Maria Cordeira. Sabemos que estamos a falar de dois
“António Roiz” diferentes, uma vez que o principal deste artigo estará vivo até
aos anos 30 do séc. XVIII. Podemos então perguntar-nos se seriam familiares.
Pai e filho? Tio e sobrinho? Primos? Outro pormenor interessante é o nome da
mulher de ambos: Maria Cordeira. Será uma confusão do padre? Ou será que
existiram mesmo duas “Marias Cordeiras”, casadas com um António Roiz que
viveram no Moinho dos Gagos neste período? Mais à frente voltaremos a esta
questão.
Esquema Genealógico dos Descentes de António Roiz e Maria
Cordeira, tendo por base os registos paroquiais. Construído com a tecnologia My
Heritage.
Dos
assentos de batismo, casamento e óbito conseguimos determinar que António Roiz
e Maria Cordeira tiveram cerca de nove filhos. De alguns só temos um registo,
de outros temos vários e de outros temos dúvidas se serão ou não seus filhos.
De qualquer forma, ficam os principais dados de cada um deles:
1. António Rodrigues: batizado em 1711,
foram seus padrinhos João Nunes e Maria Roiz. Casou-se em 1737 com Maria
Marques (da freg. De Vale de Cavalos), e vivia na altura na Várzea Redonda.
2. Maria: foi batizada em
1712, morando a família no Moinho dos Gagos. São mencionados como padrinhos
António Roiz e Maria Cordeira. Perante isto, podemos levantar duas questões: ou
se trata de um erro do padre, que repetiu o nome dos pais e padrinhos, e estes
apenas deveriam estar num dos lados, ou efetivamente existiam dois casais a
morar no mesmo local, com o mesmo nome. Será esta Maria filha de António Roiz e
afilhada de António Roiz “Manzorro?”, ou vice-versa? Esta problemática
levanta-nos o problema de não conseguirmos afirmar com certeza se será filha do
“António Roiz” em questão, visto que até este é o único registo em que surge.
3. Vitorina: É batizada a 11 de
novembro de 1714, morando a família no Moinho dos Gagos e sendo os seus
padrinhos (João Roiz e Maria Madalena) moradores na Vila de Santarém. É o único
registo seu de que temos conhecimento.
4. Domingas: É batizada em 1716,
quando a família ainda vivia no Moinho dos Gagos, sendo os seus padrinhos os
mesmos do seu irmão António. Neste assento é mencionado que estes viviam nos
“Passos dos Negros”. Falecerá em 12 de novembro de 1734, quando a família já
vive no Moinho dos Passos dos Negros.
5. Merenciana
Rodrigues: Não
temos conhecimento do seu assento de batismo. Sobre esta, sabemos que foi
madrinha de batismo com o seu pai de uma menina, Maria, filha de Tomé e Maria
Dias, em 1715. Todos estes eram moradores no Moinho dos Gagos. Será ainda
enquanto a família de António Roiz morar ainda neste local que irá morrer
Merenciana, a 10 de outubro de 1716. Esta será sepultada dentro da Igreja
Paroquial de Santo António da Raposa "ao canto do altar, da parte
direita", o que denotará alguma da importância que António Roiz e a sua
família teriam no contexto da vida social da região na época, por ter sido
sepultada num local de maior destaque.
6. Manuel António de
Faria:
Este filho de António Roiz e Maria Cordeira não deixa de ser intrigante, uma
vez que o seu apelido em nada se ajusta ao dos pais. Apesar de não termos
conhecimento do seu assento de batismo, é mencionado como padrinho várias
vezes, com a sua mãe (em 1722 e 1729, sendo claramente aludido em ambos os
registos que os padrinhos eram filho e mãe). É também padrinho de batismo com a
sua irmã Páscoa como madrinha em 1728 e 1731; em 1724 com Giomar Lopes, cuja
residência não é mencionada, mas cremos que não teria nada a ver com a família
de António Roiz. A 11 de fevereiro de 1732 irá casar-se com Micaela Maria da
Conceição, do Casal das Caneiras (freguesia da Lamarosa). Possivelmente
ter-se-á mudado para este local (ou outro fora da paróquia), uma vez que deixa
de surgir nos assentos paroquiais a partir desta data.
7. Juliana Rodrigues:
Desta
filha de António Roiz e Maria Cordeira sabemos que se casou a 8 de junho de
1722, quando a família vivia no Moinho dos Passos dos Negros, com Francisco
Dias, do Junquinho (freguesia do Chouto). Foi testemunha do seu casamento João
Nunes, morador no Passo dos Negros, e que já houvera sido padrinho de batismo
de alguns dos seus irmãos. Apenas temos conhecimento do assento de óbito de uma
das suas filhas, Maria, a 10 de maio de 1740, sendo que nesta altura vivia com
o seu marido no Moinho dos Passos dos Negros. Esta morreu com os sacramentos da
confissão e da extrema-unção, pelo que podemos inferir que já não seria uma
criança; foi enterrada "na segunda sepultura junto ao caminho da parte da
pia baptismal". Dois meses depois, a 27 de julho, o casal será padrinho de
uma outra Maria, filha de António Vicente e Maria Nunes, moradores no Moinho
dos Gagos.
8. Josefa Maria: à semelhança de alguns dos seus
irmãos, não temos conhecimento da sua data de batismo. Apenas sabemos que é
madrinha de batismo juntamente com o seu pai em 1723, 1725 e 1727 dos filhos de
João Nunes e Maria Roiz. Ambas as famílias já tinham estabelecido relações de
compadrio entre si anteriormente a estes batismos. Viviam os Roiz no Moinho dos
Passos dos Negros e os seus compadres nos Passos dos Negros (em 1723) e no
Arneiro da Volta (em 1725 e 1727). Sabemos também que Josefa Maria se irá casar
em 19 de janeiro de 1729 com José Gonçalves, de Alpiarça, vivendo ainda no
Moinho dos Passos dos Negros. Seria este José Gonçalves um trabalhador do Paço?
Com efeito, por via dos assentos de batismo em que o casal é padrinho, assim
como de alguns dos seus filhos, é mencionado que eram moradores nos “Passos dos
Negros” (entre 1731 e 1736, num total de seis assentos). Foram os seus filhos
batizados em 1731 (Maria), 1733 (Anástacio), 1734 (Maria), 1736 (António).
Terão mais duas filhas (ambas Catarina), batizadas em 1737 e 1739, quando o
casal já morava no Monte da Vinha. Temos registo do óbito de uma das
“catarinas”, em 1739).
9. Páscoa Rodrigues: Desta filha de
António Roiz e Maria Cordeira sabemos que foi madrinha por quatro vezes, com o
seu pai (em 1729 e 1731), o seu irmão Manuel António Faria (1731) e com João
Nunes (em 1734). Será neste mesmo ano que irá morrer, a 15 de novembro de 1734,
apenas três dias depois da sua irmã Domingas. Fruto de uma epidemia viral,
doença contagiosa ou simplesmente coincidência?
Fontes:
(1706-1741). Livro dos defuntos, dos baptizados e dos casados – Raposa (Sto.
António).