O
culto a Nossa Senhora da Serra, cuja casa-mãe era aquela que temos vindo a
tratar deste o passado mês de maio, terá sido uma presença constante no
dia-a-dia dos portugueses do séc. XVI, com toda a certeza impulsionada pela
regular presença da corte em Almeirim. Com efeito, e não esquecendo que à época
da sua fundação os Descobrimentos e o comércio com a Índia estavam no seu auge,
existiu uma nau que tinha o nome “Nossa Senhora da Serra”.
Afonso de Albuquerque, autor desconhecido (1555/1580).
Museu Nacional de Arte Antiga (Fonte: Matriz.Net)
Esta
nau, comandada por Afonso de Albuquerque, encalhou nuns baixos ao largo da Ilha
de Camarão. Afonso de Albuquerque faz então um voto que, caso se salvasse,
edificaria uma igreja com a invocação de Nossa Senhora da Serra, em Goa. Assim
acontece, e a dita igreja é mandada levantar em 1513, muito próxima de uma
porta da cidade, a “Porta dos Bacais”.
O
edifício foi construído virado para noroeste e “tinha seteiras em volta da
abóbada e tôrres ameadas para a defesa da porta” (Saldanha, 1990: 146). No seu
interior, as abóbadas eram douradas, sendo considerada a “mais rica da cidade”
(idem). Ladeada por esferas armilares e com uma inscrição aos pés, estava uma
estátua de Afonso de Albuquerque, juntamente com o seu escudo, no frontispício
desta igreja.
Proposta de reconstituição da fachada de Nossa Senhora da
Serra de Goa.
A
construção desta igreja foi acompanhada com 48 lojas junto a uma praça perto da
igreja, a que posteriormente se chamou “Praça do Pelourinho”. O objetivo das
lojas assentava no sustento da igreja e do sacerdote que aí tinha obrigação de
celebrar a missa diária por alma do fundador da igreja, após a sua morte,
através de parte do valor das rendas. O remanescente destinado à bolsa órfãos
filhos de portugueses e também para remunerar os juízes da cidade, que, de três
em três anos, eram responsáveis pelas contas da igreja.
A
16 de dezembro de 1515 Afonso de Albuquerque morre em alto-mar, sendo sepultado
nesta igreja, segundo a sua vontade testamentária, sendo aqui o local onde se
fizeram as suas cerimónias fúnebres. Ao seu túmulo acorriam os indígenas para
pedir proteção da opressão a que muitos os votavam. Este culto conhece o seu
fim em 1565, quando os seus restos mortais são transladados para Lisboa.
Estátua de Afonso de Albuquerque, no Museu de Arqueologia
de Penjim. Será a mesma estátua a que se refere o autor em questão? Apenas se
sabe que esteve numa praça de Penjim. Foto de João Taborda.
Esta
igreja é demolida em 1811, quando já se encontrava muito arruinada. Manteve-se
em pé apenas o frontispício que também acaba por ser demolido em 1842. Desta
feita, o Conde de Antas, então governador, ordenara que a estátua de Afonso
Albuquerque, assim como alguns elementos escultóricos fossem transferidos para a
praça fronteira ao Quartel de Artilharia de Goa, em Penjim, que entrou em
construção em 1843.
Bibliografia:
SALDANHA, Manoel José Gabriel
(1990). História de Goa – Parte III:
política e arqueológica. S/l: Praça de Água.
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