segunda-feira, 29 de abril de 2013

Moinhos de Paço dos Negros desaparecidos


Paço dos Negros, talvez por ser um dos maiores aglomerados urbanos que encontramos ao longo da Ribeira de Muge, conheceu vários engenhos. Apesar de hoje só encontrarmos ruínas de dois dos engenhos no limite do lugar (os moinhos do Fidalgo e do Ti Manuel Custódio), podemos afirmar que aqui existiram mais alguns para além destes. Com efeito, encontramos referências a quatro engenhos que já desapareceram.


1 – Moinho de Antão Fernandes
Sabemos que em 1518 D. Manuel I autorizou Antão Fernandes (então almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge), a construir um moinho no Vale João Viegas, num terreno à sua escolha. Cremos que este engenho seria o mesmo que Manuel Francisco Fidalgo vai herdar de sua sogra, apontado como uma das “minholas” (moinho de pequenas dimensões) que desativou aquando da construção do Moinho do Fidalgo. Encontra-se ainda assinalado no mapa da Herdade de Paço dos Negros, datado de 1933. Foi um moinho de rodízio.

2 e 3 – Azenha e Moinho do Caniço
A designação destes engenhos é dada por nós. Com efeito, não sabemos como se chamavam ao certo, e são poucas as pessoas ainda se lembram deles, sobretudo do Moinho de Vento de Custódio Caniço. Quanto à azenha (engenho com uma “roda hidráulica” exterior), era de propulsão superior. Ambos aparecem no Mapa da Herdade de Paço dos Negros, de 1933. Eram dois engenhos pequenos, que apenas teriam um casal de mós cada. A azenha, mais recordada, teve como moleiro um sujeito conhecido como “Velho Passeiro”.

4 – Moinho de Vento
Talvez um dos mais conhecidos engenhos de Paço dos Negros, que chegou a dar o nome a uma rua. Segundo as descrições que fazem deste, seria um moinho de vento de torre fixa. Dois aspetos interessantes há a registar sobre este. Em primeiro lugar, a sua construção. Foi mando erguer por Manuel Custódio (o mesmo que já possuía um engenho na ribeira), precisamente para poder continuar a produzir farinha quando a água lhe faltava, sobretudo no período de verão. Em segundo lugar, este foi um dos moinhos mais ligados ao contrabando de farinha durante o período do Estado Novo, facto que não poderíamos deixar de registar.

Bibliografia e outras fontes:
- (1933). Herdade de Paço dos Negros.
- EVANGELISTA, Manuel (2004). Lendas da Ribeira de Muge. S/l: Edição JFFA e JFR.
- EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.
- Jesuína Fidalgo (fonte oral)
- Manuel Cipriano (fonte oral)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Moinhos de Vale Flores



Já no Concelho da Chamusca, Freguesia da Parreira, antes do encontro da Ribeira do Chouto com a Ribeira de Muge, encontramos dois moinhos de rodízio na margem esquerda desta última. Um deles deu inclusivamente origem ao topónimo “Moinho de Vale Flores”, que surge na carta militar. Se a levada que os tocava já desapareceu, ajudada possivelmente pelos trabalhos agrícolas que aqui se desenvolveram, o mesmo não se pode dizer dos engenhos.


O moinho mais a jusante é também designado simplesmente por “minhola”, ou seja, um moinho pequeno, contou com dois casais mós. Foi convertido em espaço de arrumos para a atividade agrícola. Foi-nos referido como tendo sido pertença de Agostinho Lopes e teve como moleiro António Teso.


Já do engenho mais a montante podemos apresentar mais alguns dados histórico-cronológicos, contudo menos tecnológicos, pois foi-nos vedada a entrada neste engenho. Contudo, conseguimos saber que teve como proprietário Inácio Lopes e como moleiro Manuel Teso. Foi construído em 1917, tendo-lhe sido adicionado um motor em 1950 (para fazer face à falta de água). Parou de trabalhar em 1963. Parou de trabalhar em 1963. 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Vestígios das cheias na Ribeira de Muge

Se a Ribeira de Muge transbordou coisa de apenas alguns dias, ainda hoje podemos encontrar alguns vestígios da forte precipitação que se fez sentir nesses dias. Podemos assim ver, num ponto de água algures no meio da Herdade dos Gagos, que os pinheiros que o circundam ainda têm parte considerável dos troncos submersos, como se pode ver nas fotos abaixo, tiradas hoje, por volta das 9h da manhã. 



Há dois meses, podíamos ver o mesmo sítio assim: 



domingo, 21 de abril de 2013

A Ana Filipa está a morrer!

O sobreiro mais famoso da Herdade dos Gagos está a morrer. Mas a morrer naturalmente, como processo da natureza (com um pouco de negligência nos seus cuidados, talvez, não percebo do assunto o suficiente para o comentar...). 

Que seja este o seu fim: o imposto pela natureza. E não o imposto pelo homem para a construção de uma prisão ou qualquer outra coisa. 


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Moinho do Diego e a cartografia do séc. XIX – Parte II


Ao voltar a visitar o website “Old Maps”, encontramos mais alguns mapas que referem o Moinho do Diego. Apesar de não os irmos referir a todos, creio ser interessante apresentar mais alguns, pois assim poder-se-ão levantar mais algumas questões.


A – (1800), “Provincias meridionales regni Portugalliae, scilicet Extremadura, Transtagana quibus regnum Algarbiae adiungitur, por Homannischen Erben e Franz Ludwig Güssefeld

Este primeiro mapa representa apenas os cursos de água, barragens e lugares, não apresentado estradas. Contudo, este é o único que encontramos que tem legenda, ou seja, conseguimos saber o que é cada um dos sinais que assinalam os lugares. Assim, o Moinho do Diego é considerado uma “villa”, como Almeirim, Muge, Lamarosa, Erra ou Coruche. Deste modo, cremos poder afirmar com alguma segurança que se tratava não de um engenho isolado, mas sim de um conjunto de habitações, possivelmente até com alguma dimensão, e onde habitaria um número significativo de pessoas. Contudo, parece-nos excessiva a consideração daquele espaço como uma vila, pelo que poderá apenas ser um erro de cartografia.
Em relação ao mapa, há ainda a destacar a representação de uma ponte em Muge (possivelmente a ponte romana). Muge e o Porto de Muge, à semelhança de alguns dos mapas da Parte I, continuam mal situados. Também o lugar que acreditamos ser o Paço Real da Ribeira de Muge surge como “Muya”, à semelhança dos mapas anteriores.

B – (1812), “A new Military Map of Spain and Portugal compiled from The Nautical Surveys of Don Vincent Tofiño, the new Provincial maps of Don Tomas Lopez, the large map of the Ptrenees by Roussill, and various original documents”, por John Stockdale.


C – (1813), Portugal, por John Pinkerton

D – (1835), “Portugal”, por John Cary

As erróneas representações de Muge, de Porto de Muge e do Paço Real da Ribeira de Muge continuam nestes três mapas. Quanto ao Moinho do Diego, parece-nos aqui estar junto à Ribeira da Lamarosa, já perto do encontro desta com a Ribeira de Muge. É um pormenor, que contudo pode resultar apenas de uma incongruência de representação geográfica, e não ser de maior importância. 

domingo, 14 de abril de 2013

Moinho do Ti Manuel Custódio


É deste modo que aparece referido na “Carta Arqueológica do Concelho de Almeirim”, o único documento oficial (por oficial, leia-se produzido pelas entidades competentes para a gestão e salvaguarda do património) que faz um inventário dos bens culturais a salvaguardar, nomeadamente os moinhos.

Localização do engenho.

Não conhecemos a origem deste engenho, no entanto, sabemos que ele já existia aquando do levantamento para o “Mapa da Herdade dos Paços dos Negros”, com a data de 1933. Atendendo a que o levantamento terá sido feito nos anos anteriores à publicação do mapa, podemos inferir que o moinho será anterior aos anos 30 do séc. XX. De salientar também que este engenho teve um casal de mós francesas. Estas tinham como característica principal uma maior durabilidade e uma necessidade de picagem inferior às restantes. Vinham de França, daí o seu nome, de pedreiras em duas localidades relativamente perto de Paris: Ferté-sous-Jouarre e Epernon. Os seus moleiros foram Manuel Custódio (proprietário), Manuel Merenda, José Nobre e Joaquim Nobre.

Perspetiva do engenho e da zona do açude. É visível o estado degradado em que se encontra.

A nível tecnológico, cremos que terá sido o maior moinho de Paço dos Negros, pois tinha seis casais de mós. Perto, apenas o da Raposa o conseguia igualar, e nenhum o superava. Estes estavam divididos em dois corpos distintos. O primeiro era utilizado para o descasque de arroz, contando com dois casais de mós. O segundo teria quatro, entre os quais o conjunto de mós francesas. Quanto ao meio de propulsão, este era um moinho de rodízio, como todos os outros que ainda podemos encontrar ao longo da Ribeira de Muge. São ainda visíveis as seteiras dentro do cabouco do corpo mais pequeno.

Seteiras no interior dos caboucos do corpo mais pequeno.

Bibliografia e outras fontes:
- (1933). Herdade de Paço dos Negros. Mapa.
- Jesuína Fidalgo (fonte oral)
- Manuela Evangelista (fonte oral)
- OLIVEIRA, Ernesto Veiga, GALHANO, Fernando e PEREIRA, Benjamim (1983). Tecnologia Tradicional Portuguesa: Sistemas de Moagem. S/l: Imprensa Nacional da Casa da Moeda.
- WARD, Owen (2011). “Millstone Makers of Epernon”, in: International Molinology, vol. 82. S/l: The International Molinological Society. (pp. 19-21)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Moinho do Diego e a cartografia do séc. XIX - Parte I


De um conjunto de cinco mapas de Portugal (encontrados no portal OldMaps), situados cronologicamente entre 1797 e 1883, surge em comum um lugar assinalado, designado por “Moinho do Diego”. Este localizava-se entre as ribeiras da Lamarosa e de Muge, aproximadamente junto ao sítio onde se juntam. Juntamos a este um sexto mapa, sem legenda, que encontramos na internet, e do qual não temos informação nenhuma, apesar de nos parecer ter alguns aspetos interessantes. 

 A – (1797), “Portugal”, por William Faden

Neste primeiro mapa, o Moinho do Diego surge entre as duas ribeiras, como já referimos. Contudo, podemos perguntar-nos qual a sua importância nesta época. Surgem as principais localidades grafadas, apesar de alguns erros de representação (Muge está no lado errado da ribeira e o Porto de Muge está a norte de Muge). É ainda interessante de verificar que podemos encontrar um lugar designado por “Muja”, que possivelmente será o Paço Real da Ribeira de Muge, que à data da elaboração do mapa já pertencia à casa dos Condes da Atalaia.

B – (1829), “Portugal”, por S. Hall.

Neste segundo mapa, um pouco mais detalhado que o anterior em termos de estradas, podemos constatar mais alguns pormenores interessantes. Em primeiro lugar, passava junto ao Moinho do Diego uma caminho, possivelmente secundário (tendo em conta que a linha que o assinala é substancialmente mais fina que as outras). Este caminho tinha origem no Escaroupim (aldeia avieira, onde existia um porto de travessia do Tejo em barcas), e ia dar à estrada que conduz Almeirim a Coruche. Mais uma vez surge o lugar de “Muja” neste mapa. A ser o Paço Real da Ribeira de Muge, ou o Paço dos Negros como já devia ser conhecido nesta altura, está mal assinalado, visto que este se encontra não à esquerda da via Almeirim-Coruche (de que é herdeira a atual N114), mas à direita da via Almeirim-Lamarosa (a atual EM578 que liga estas localidades, passando por Fazendas de Almeirim, Paço dos Negros, Arneiro da Volta, Monte da Vinha e Zebro).

C – (1835), “Portugal”, por Rest. Fenner.

Neste terceiro mapa encontramos a representação do Moinho do Diego num mapa mais desprovido de pormenores. Com efeito, não surgem aqui outros lugares que víamos nos anteriores (como Almeirim, Santa Marta, Chouto, Lamarosa ou Coruche). Será isto significado que tinha uma importância de maior, hoje para nós desconhecida? Poderia ser (e isto é apenas uma suposição da qual não temos fundamento algum), um lugar importante naquela via, como sítio de repouso e descanso, um pouco na ótica das atuais estações de serviço das nossas autoestradas?

D – (1855), “Spanien, Portugal SW”, por Heinrich Berghaus, Carl Flemming, Carl Sohr e A. Theinert.

Neste mapa aparece-nos novamente o caminho que parte do Escaroupim. Contudo, neste caso, prossegue até “Ponte dSoro”, ou seja, Ponte de Sor.

Estes quatro mapas podem ter sido feitos a partir de outros, tendo por base o mesmo levantamento. Cremos poder afirmar isso pelo simples facto de todos terem a mesma imprecisão na representação de Muge, a vila que seria sede de concelho até à reforma liberal de 1836: a localidade está representada na margem direita da Ribeira de Muge, e na verdade encontra-se na margem direita. Contudo, apesar desta “coincidência”, cremos que esta é uma possibilidade bastante remota, pela quantidade de outros pormenores que há nuns e não noutros.

E – (1883), “Portugal 4”, por Letts, Son & Co.

Já neste mapa encontramos Muge representada corretamente. Por outro lado, o caminho que no mapa anterior conduzia o Escaroupim à Ponte de Sor, já não passa junto ao Moinho do Diego, mas sim ligeiramente mais a sul. Será a mesma via representada no mapa D, representada num local diferente? Ou será a via apresentada no mapa B como saindo do Escaroupim para a Ponte de Sor, passando entre Lamarosa e Erra, até Ferro de Vacas? Neste último caso, poderá não aparecer a via que liga ao Moinho do Diego simplesmente porque, sendo secundária (como a consideramos anteriormente), apenas aqui aparecem as vias principais?
Um facto curioso neste mapa, que não poderíamos deixar de fazer notar, é a inclusão da representação das linhas de caminho-de-ferro. Surge já a linha do norte, cujo primeiro troço (Lisboa – Carregado) foi inaugurado em 1856 e em 1859 já chegava a Santarém, e a linha do Leste, que ligava Abrantes a Elvas, concluída em 1863.


Por fim, este último mapa, mandar-nos-ia a prudência da investigação, nunca utilizar. Porque nada sabemos dele, pelo menos até à presente data. Contudo, ele tem alguns aspetos sobre os quais não poderíamos deixar de refletir. Em primeiro lugar, surge “Moinho do Diogo” e não “Moinho do Diego”, ou seja, a forma portuguesa do nome. Poderá ser, por isto, um mapa posterior aos restantes, sendo o nome do lugar pela linguagem já ter sido “aportuguesado”. Sobre isto, poderemos ainda aventar uma teoria, reforçando contudo que não temos bases para esta, e não passam de um mero exercício de suposições: a existência do nome “Diego” virá de um qualquer sujeito de nacionalidade espanhola, que se fixou em Portugal, especificamente neste local. Poderia ser o moleiro (que neste caso estaria ao serviço de um português), ou o próprio proprietário?

Para além disto, há ainda que ter em vista que as linhas de água das ribeiras não estão apresentadas no mapa, pelo que se torna mais difícil estabelecer a correta representação espacial dos lugares. Há um caminho que passa relativamente perto do “Moinho do Diogo”, contudo, cremos que podemos reforçar aqui a teoria de que a estrada que liga o Escaroupim ao “Moinho do Diogo” é uma secundária não representada, e que as que estão a sair dali serão as mesmas do mapa B e E.

Bibliografia e outras fontes
http://www.oldmapsonline.org
SERRÃO, Joaquim Veríssimo (2003). História de Portugal – Do Mindelo à Regeneração (1832 – 1851), vol. VIII, 2.ª edição. S/l: Ed. Verbo.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo (1986). História de Portugal – o Terceiro Liberalismo (1851-1890), vol. IX. S/l: Ed. Verbo. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Em abril águas mil! - Para mais tarde recordar

Não são as cheias do Rio Tejo. Não deixam lugares isolados. Não inundam casas. Não são aquelas que "invadiriam os campos, neles permanecendo muitos dias" (A. Cláudio, Conhecer Almeirim - As cheias). 

São as cheias da Ribeira de Muge. Que neste ano e neste dia das mentiras (mas bem reais), galgaram as margens onde costumam estar, e decidiram "espairecer" pelos campos em volta. 

Para mais tarde recordar! 


E parecendo que não, também cortaram uma estrada
Estrada dos Gagos de acesso a Vale Veados





Zona do Vale de Água



Estrada rural Vale de Água - Vale Medeiros






Aqui costuma ser uma "bifurcação" de cursos de água. Hoje são um único. 


Apenas uma preocupação: Vi nas águas muito "entulho", sobretudo na zona da ponte sobre a ribeira na estrada para o Arneiro da Volta. Em parte acredito que este seja consequência da não limpeza da ribeira há alguns anos a esta parte. Não nos devemos esquecer que a ribeira é rodeada de canteiros de arroz, que comunicam entre si por manilhas e que passam por baixo das estradas em vários aquedutos. Se a cheia de intensifica, e continuando um pouco nesta ótica, estes "canais de comunicação" poder-se-ão ver entupidos, dificultando o escoamento das águas, e levando a um aumento desnecessário da cota inundada.