quinta-feira, 23 de maio de 2013

Portugal também tem um aniversário

Hoje Portugal comemora 834 anos de idade. Para melhor se perceber, passamos a citar: 

"..., em 23 de Maio de 1179, o papa Alexandre III acabou por reconhecer a D. Afonso Henriques o título de rei, pela célebre bula Manifestis probatum. Este diploma, que, além disso, tomava o rei e os seus herdeiros sob a protecção da Santa Sé, declarava Portugal como um reino pertencente a S. Pedro e prometia o auxílio papal para a defesa da dignidade régia." 
MATTOSO, José (coord.) (1993). História de Portugal - A Monarquia Feudal (1096-1480), vol. 2. S/l: Círculo de Leitores. (pág. 90)

 Numa altura em que o reconhecimento papal era essencial para que um estado fosse idependente. 

Uma data a assinalar, e que, infelizmente, nem sempre nos lembramos. Faz parte, sem dúvida, do nosso património e da nossa identidade enquanto portugueses.

sábado, 18 de maio de 2013

Moinho da Raposa ou Moinho do Barba


Raposa na Carta Militar de Portugal, com a localização do moinho assinalada.

O Moinho da Raposa é talvez o engenho em que podemos observar uma maior mutação da sua função inicial. Edificado na margem esquerda da Ribeira de Muge, à entrada da localidade da Raposa, não conseguimos localizar a sua origem no tempo. Teve no total seis casais de mós, sendo alguns deles (2 ou 3) utilizados para o descasque de arroz. Este moinho fazia essencialmente trabalho para fora, ou seja, tinha uma série de clientes, a quem moía os cereais e descascava o arroz e cobrava uma maquia.

Fachada principal do edifício.

Quanto aos seus proprietários, o primeiro que podemos situar é Francisco Manuel Baptista, também conhecido como “o Barba” (daí a designação do moinho), descrito por José Fernandes como “o homem mais rico da Raposa”. No início dos anos 80 do séc. XX é-lhe adaptado um motor de um barco, passando a funcionar como fábrica de descasque de arroz, sendo o edifício ainda hoje conhecido simplesmente como “o descasque”. É vendido por Manuel Santiago a Cardoso, sendo que este último acaba por deslocalizar a atividade para Monte da Barca (Coruche), onde após a venda a empresas espanholas, acabou por surgir o Arroz Cigala.

Boneca de Trapos – uma das peças do museu mais frágeis, devido à debilidade dos seus materiais.

O edifício é adquirido pela autarquia por 1500 contos já no final dos anos 90, sendo posteriormente remodelado e é inaugurado a 23 de dezembro de 2001 como a Casa da Cultura da Raposa. É uma valência notável, que serve os mais de 500 habitantes da freguesia. Dispõem de um museu com um espólio interessante, desde alfaias agrícolas, brinquedos, alusões às atividades económicas (nomeadamente o descasque de arroz), assim como vários elementos integrantes da vida doméstica dita normal, como utensílios de cozinha, mobílias, bordados, trajes, entre outros, doados pelas pessoas da freguesia. Para além deste museu, dispõe ainda de biblioteca, com área infantil (quantas freguesias com 500 habitantes conhecemos que têm biblioteca?), assim como um salão, bar e sala de ATLs.

Meio alqueire, utilizado nos moinhos para medir farinha.

Conjunto de loiças de barro, utilizadas na vida doméstica.

Biblioteca, com destaque da área infantil.

Bar

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Moinho de Cima


Este é o engenho de que temos a mais antiga referência: 1434. É neste ano que o monarca, D. Duarte, marca a divisão entre os concelhos de Santarém e Muge no sítio onde se localizava o Moinho da Regueifeira. Assim, podemos afirmar que este moinho já existia, anteriormente a esta data. Em 1459, quando é edificado aquele que viria a ser conhecido como o “Moinho do Meio”, é referido que este teria a montante o Moinho do Gonçalo, que acreditamos ser este. Aquando da demarcação da Coutada da Ribeira de Muge, em 1514, este moinho marcava o seu limite mais a jusante, e era conhecido como o “Moinho de Vasco Velho”.

 Carta Militar, com a localização do Moinho de Cima assinalada.

Nos cartogramas do séc. XVIII, que já referimos na Parte I dos Moinhos do Convento da Serra, este engenho surge com a designação de “Moinho do Policarpo”, na “Planta das Terras de Almeirim” e como “Moinho do Clérigo” na “Carta das Montarias da Villa de Santarém”. Henriques (2012), apresenta um registo de óbito Domingos Almeida, em 1754, que viva no "Moinho do Clérigo". 

Vista de uma das entradas no engenho, na empena.

Em 1830 este moinho é comprado por José António Pinhão às monjas de S. Domingos. Este desenvolve aqui uma grande produção de arroz, sendo que já no séc. XX, continuando o moinho (e a quinta) na posse da sua família, chega a ter aqui uma máquina a vapor, para auxiliar neste processo.

Um dos casais de mós, cintados a ferro, e com várias pedras sobrepostas a fazer de pouso.

Quanto à sua parte tecnológica, este é um moinho de rodízio, com dois casais de mós. Os rodízios já desapareceram, contudo, é ainda possível observar dentro dos caboucos os dois tubos de pressão. Relativamente às mós, estas são de granito. O pouso está montado com uma sobreposição de pedras, algo bastante comum nestes moinhos, e que transparece um certo sentido de economia destas. Cabe ainda referência ao diâmetro destas mós, que é um pouco superior aos demais moinhos que encontramos na ribeira.

Bibliografia e outras fontes:
- (1434). Chancelaria de D. Duarte I, livro 1, folha 924.
- (1460). Leitura Nova, livro 5, maço 1001, folha 198.
- (1775). Carta Geografica das Montarias da Villa de Santarem
- (s/d). Plantas da Terra de Almeirim
- Evangelista, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.
- Henriques, Eurico (2012). As Origens de Benfica do Ribatejo. S/l: ed. Rancho Folclórico de Benfica do Ribatejo.
- José Fernandes (fonte oral)

terça-feira, 7 de maio de 2013

Moinhos dos Gagos


Carta Militar de Portugal, com os dois engenhos da Herdade dos Gagos assinalados

A Herdade dos Gagos, como propriedade agrícola com uma vida imensa, sobretudo até ao final do Estado Novo. Como tal, teve um moinho como uma das suas valências, que servia tanto o proprietário da herdade (Conde Sobral), como os seus caseiros.
Não sabemos quando foi construído o moinho velho, assinalado na carta militar a vermelho, cujo desaparecimento há muito se deu (talvez tenha sido demolido na altura em que o novo foi construído). Contudo, ainda são conhecidos os nomes de Manuel Moleiro e António Moleiro como lá tendo laborado. A única data que podemos associar a este engenho é 1720, quando no documento da compra de um outro engenho, se refere que aqui vivia António Roiz.

Moinho dos Gagos – é visível a degradação do edifício. © Manuel Evangelista.

Quanto ao moinho novo, foi-nos dado um marco temporal preciso para a sua construção: foi feito ao mesmo tempo que a ponte de Santarém, ou seja, por volta de 1861/62. Foi um dos que fez contrabando de géneros alimentares durante o período do racionamento no Estado Novo. Teve como moleiros Joaquim Nobre e Benjamim Tomé. Tecnologicamente, este engenho contou com quatro casais de mós, tocados por rodízios. Destes, dois serviam para o arroz, um para a farinha de trigo e outro para a de milho. Hoje, como se pode ver na imagem acima, encontra-se bastante degrado, uma vez que foi inclusivamente parcialmente demolido. As suas mós foram colocadas junto aos casais da herdade, para fazer de mesas, como se pode ver na imagem abaixo.

Aproveitamento de mós para mesas. © Samuel Tomé

sábado, 4 de maio de 2013

Moinho da Gaga



O Moinho da Gaga, cuja localização se encontra assinalada na Carta Militar, está situado na freguesia de Muge, concelho de Salvaterra de Magos. Contudo, parace-nos que serviria essencialmente a população de Foros de Benfica (concelho de Almeirim), e não tanto aquela onde se encontra, do ponto de vista geográfico. Tanto mais que este engenho aparece mencionado na Carta Arqueológica do Concelho de Almeirim.


Situado na cota dos 50 metros de altitude, este seria um moinho de vento de torre fixa, de capelo rotativo e tração por sarilho. Tanto mais que ainda são visíveis as argolas por onde este passaria, apesar de todo o demais aparelho ter desaparecido. Possivelmente teria três pisos, pois são ainda visíveis marcas do sobrado nas paredes interiores.


Aspeto algo curioso, que não poderíamos deixar de notar, é o seu exterior em silharia. Contudo, por esta ser em tijolo, assim como pela tração por sarilho, não o poderemos deixar de considerar um moinho muito mais próximo ao saloio que ao serrano.