Os
engenhos de moagem eram, na Idade Moderna , pertença quase exclusiva dos
senhorios (nobres ou eclesiásticos) que os recebiam por mercês do rei, segundo
Mattoso (1993a). Eram uma boa fonte de rendimento, devido à cobrança da maquia,
que era de 1/14, segundo o autor citado.
O
Convento da Serra, à semelhança de muitas casas monásticas, foi possuidor de
bens doados pelos monarcas, nomeadamente dois moinhos na margem da Ribeira de
Muge. Contudo, importa primeiro contextualizar um pouco esta casa.
Imagem 1: Pórtico manuelino do
Convento da Serra. Último vestígio construído deste convento dominicano.
Tendo
origem, lendária, no reinado de D. Afonso Henriques, com a descoberta de uma
imagem da virgem no meio da serra e consequente construção de uma pequena
ermida. Contudo, este mesmo culto terá uma maior projeção no final do séc. XV e
séc. XVI, com as estadas da corte em Almeirim. A pequena ermida dá lugar a um
convento, dedicado a Nossa Senhora da Serra, onde passaram a viver Frandes
Dominicanos.
Ao
observar a cartografia já do séc. XVIII, podem retirar-se algumas ilações.
Imagem 2: "Plantas da Terra de Almeirim" (extrato).
Neste primeiro mapa,
observamos o Convento da Serra, com a sua área demarcada. Contudo, sabemos que
naquele local, onde não existem cursos de água, não poderiam existir moinhos. No
entanto, junto à Ribeira de Muge, encontramos três engenhos. Os dois mais a
jusante foram os doados ao Convento da Serra. São designados aqui como o
“Moinho dos Frades” e o “Moinho dos Vecos”.
Imagem 3: "Carta Geográfica das Montarias da Villa de
Santarem" (extrato).
Neste
segundo mapa, datado de 1775, podemos encontrar ambos os engenhos em questão
sob a designação de “Moinho dos Frades”. Acima, isolado, encontramos o Convento
da Serra, na confluência de vários caminhos.
Aquando
da extinção das ordens religiosas, em 1834, e da incorporação na Fazenda
Pública dos seus bens, os frades do Convento da Serra vêm o seu convento
conhecer este destino. Contudo, já se tinham desfeito dos seus engenhos na
ribeira, quando em 1806 os houveram hipotecado, como refere Custódio (2008).
Estes
engenhos não chegaram aos nossos dias. Contudo, ficaram conhecidos como os
moinhos de Baixo e do Meio aqueles que se encontravam já no território da atual
freguesia de Muge, como nos mostra o cartograma abaixo.
Imagem 4:
Carta Militar de Portugal, folha 378 – Raposa. (extrato).
As
localizações dos engenhos são da nossa autoria. Se do Moinho do Meio temos a
certeza da sua localização, do Moinho de Baixo nem tanto. Contudo, pela
observação das imagens 2 e 3, podemos chegar à conclusão que se encontrava
entre o Moinho do Meio e os Caniçais. Voltaremos a esta questão na parte II.
Fontes e bibliografia:
(1775). Carta Geografica das Montarias da Villa de
Santarem
(s/d). Plantas da Terra de Almeirim
Custódio,
Jorge (2008). Almeirim: Cronologia Histórica.
S/l: Edição CMA e Edições Cosmos.
Mattoso, José – dir. (1993a). História de Portugal: no alvorecer da
modernidade (1480-1620). Vol. 3. S/l: Círculo de Leitores.
Tomé,
Samuel (2012). O Património Molinológico
como fator identitário e vetor do desenvolvimento económico: o caso da Ribeira
de Muge. Dissertação de mestrado em Gestão e Programação do Património
Cultural, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
(policop.)
Vasconcellos,
Frazão de (1924). “A sepultura de Fernão Soares”, separata da Arqueologia e História, vol. III.
Lisboa: Tipografia do Comércio.
Vermelho, José (1956). Entre Olivais e Vinhedos. Porto: Edição Secção dos Serviços
Culturais da Casa do Povo de Almeirim.
muito bom.
ResponderEliminarcontinua as tuas pesquisas e escritas.