“Boda
Campestre”, de Jan Brueghel, o Velho.
Este episódio
relata um casamento, cujo cortejo virá do centro da aldeia, e irá para a
entrada do templo onde irá ocorrer a cerimónia. O cortejo é constituído
sequencialmente por um tamborileiro, pelo noivo, homens de ambas as famílias,
músicos, mulheres, a noiva, e assim por diante. O templo ocupa a centralidade
da tela, contudo vai propagando-se a pormenorização a vários elementos da
paisagem, como as árvores.
Está patente no
Museu Nacional de Arte Antiga uma exposição denominada “Rubens, Brueghel e
Lorrain: A Paisagem Nórdica do Museu do Prado” até 30 de Março. É uma
oportunidade única de visitar em Lisboa obras de grandes mestres da pintura do
séc. XVII. A exposição estende-se a outros pintores para além dos mencionados
no título e conta com um total de 57 pinturas de paisagem flamenga e holandesa,
que fazem parte exclusivamente do acervo do Museu do Prado.
“Paisagem com
Moisés salvo das águas”, de Claude Lorrain
É uma paisagem
vertical, que retrata um tema bíblico (a recolha de Moisés, em bebé, no Nilo).
Era um tema com uma grande tradição, contudo Lorrain dar-lhe-á uma nova
leitura. Não são as margens exóticas do Egito, mas sim uma paisagem bucólica e
verdejante, com um pastor a dormir. De salientar que o céu ocupa cerca de dois
terços pintura, levando a que seja dado uma maior importância ao horizonte e à
própria paisagem.
É considerada
pelos italianos “paisagem nórdica” aquela que fica para lá dos Alpes, ou seja,
a Holanda e Países Baixos. Até aqui, a pintura era essencialmente figurativa e a
paisagem é meramente acessória. A partir daqui, poderemos assistir a uma
transformação desta conceção, passando a paisagem a poder ocupar o lugar
primordial da pintura. A parte narrativa da pintura ocupa uma parte não muito
substancial desta, passando o envolvente a tomar mais espaço e mais expressão. Com
uma alta densidade pictórica, e altamente pormenorizada, será uma exposição
para poder ser apreciada com tempo.
“Ato de Devoção
de Rodolfo I de Hasburgo”, de Peter Paul Rubens e Jan Wildens
Esta é uma
pintura que pretende transmitir a religiosidade de Rodolfo I. Este
encontrava-se a caçar com o seu escudeiro, e ao cruzarem-se com um padre e o
sacristão que levavam o sagrado viático a um pobre, cedem-lhes as suas
montadas. Com uma dimensão humorística, patente no facto do sacristão não estar
habituado a montar e revelar dificuldades em se equilibrar em cima do cavalo,
assim como os cães se encontrarem a urinar. Há ainda a dimensão da vida para a
morte, que vai da parte esquerda para a direita: vemos as próprias árvores que
vão perdendo vida.
Do ponto de
vista técnico, esta é uma exposição bastante bem preparada. As 57 obras foram
espalhadas por nove núcleos temáticos (a montanha, a vida no campo, a paisagem
de gelo e neve, o bosque como cenário, entre outros). Para acompanhar a
exposição, foi feito um folheto com informação clara e sucinta. Para a
complementar, foi criado um catálogo, que permite levar a exposição para casa.
Com 177 páginas, a cores e com uma gramagem considerável, impresso em papel
couché, com uma boa análise artística. Ainda mais, há uma série de
merchandising sobre a exposição, que vai de canecas a postais, marcadores de
livros ou blocos de notas. Foi ainda criado um site (aqui), onde é
possível ter mais informações sobre a exposição, por um lado, e poder acessar
frequentemente a notícias sobre esta, que aqui são reunidas. Para além disto,
há a salientar a escolha sempre da mesma imagem para a construção da imagem da
exposição: a tela de Pieter Paul Rubens, Atalanta
e Meleagro caçando o javali de Cálidon, reproduzida abaixo. Como a aspeto
menos positivo, há a destacar as tabelas, que poderiam ter uma fonte maior.
“Atalanta e Meleagro caçando o javali de
Cálidon”,de Peter Paul Rubens.
Esta pintura tem
a particularidade de ter sido pintada por Rubens por deleite do autor e não por
uma encomenda que lhe tenha sida feita. É uma obra enorme e que nos sentimos
impressionados na sua presença. Mais escura que outras do autor, o espaço
narrativo ocupa apenas cerca de um terço da tela, levando a que o bosque que
constitui a paisagem ocupe a maior parte dela.
Bibliografia:
KUBISSA, Teresa
Posada (2013). Rubens, Brueghel, Lorrain:
A Paisagem Nórdica do Museu do Prado. Lisboa: Ed. Museu Nacional de Arte
Antiga e Imprensa Nacional da Casa da Moeda.
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