O
azulejo é um elemento que nos chega por herança árabe. Surge na segunda metade
do séc. XV dois tipos de azulejos, que foram designados por “mudéjares” ou
“hispano-mouriscos”, devido à sua origem no Reino de Granada, último reduto
árabe na Península Ibérica. Foram produzidos em várias cidades andaluzes, com
especial destaque para Sevilha e Málaga. O primeiro tipo designa-se por azulejo
de corda seca, em que “os desenhos eram limitados por sulcos preenchidos com
uma mistura de óleo de linhaça e manganês que, após a cozedura, funcionavam
como uma barreira que impedia a separação das cores” (Santos, 2009: 19). Já nos
azulejos de arestas “o isolamento das cores era obtido por arestas salientes,
moldadas no próprio barro antes da cozedura” (idem). As primeiras aplicações em
Portugal foram feitas no início do séc. XVI, com azulejos hispano-mouriscos
importados de Sevilha. A este facto não terá sido estranha a visita de D.
Manuel I à Alhambra, em Granada, onde terá contactado com este tipo de
revestimento.
Azulejo do tipo "Corda Seca" originário do Paço Real da Ribeira de Muge.
Em exposição no Museu Municipal de Almeirim.
Azulejo do tipo "Aresta" originário do Paço Real da Ribeira de Muge.
Em exposição no Museu Municipal de Almeirim.
Sendo
construído no início do séc. XVI, foi com toda a certeza profusamente decorado
o Paço Real da Ribeira de Muge com estes azulejos. Contudo, não chegaram aos
nossos dias. Com efeito, quando Vasconcellos (1926), visita este local relata
que já existiam poucos, existindo ainda um banco revestido deles. Levou alguns
para o Museu do Carmo, oferta de Manuel Francisco Fidalgo, à época proprietário
do paço. Evangelista (2011), alude à possibilidade dos azulejos que se
encontram na exposição do Museu Arqueológico do Carmo, identificados com
“proveniência desconhecida”, serem originários daqui.
O
dito banco que Frazão de Vasconcellos menciona ainda hoje existe, e é o das fotos acima. Está
revestido na sua grande maioria por azulejos com um padrão verde, azul e amarelo. Tem
outros azulejos que cremos terem-lhe sido adicionados posteriormente. Para além
destes, existem ainda mais alguns, muito fragmentados espalhados em alguns
bancos exteriores. Da mesma forma, podemos encontrar seis exemplares
praticamente intactos na exposição do Museu Municipal de Almeirim.
Banco no complexo das ruínas do Paço que apesar de já praticamente desprovido de azulejos, ainda tem alguns resistentes bocados a cobri-lo, como o do pormenor da segunda imagem.
Bibliografia:
EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.
SANTOS,
Hugo Miguel Aguiar (2009). Azulejo não é
crime! Prova final de licenciatura apresentada ao departamento de
Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra.
VASCONCELLOS, Frazão de (1926).
“O Paço dos Negros da Ribeira de Muge e os seus almoxarifes”, separata da
publicação Brasões e Genealogias. Lisboa: Tipografia do Comércio.
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