De um conjunto de
cinco mapas de Portugal (encontrados no portal OldMaps), situados cronologicamente entre 1797 e 1883, surge em
comum um lugar assinalado, designado por “Moinho do Diego”. Este localizava-se
entre as ribeiras da Lamarosa e de Muge, aproximadamente junto ao sítio onde se
juntam. Juntamos a este um sexto mapa, sem legenda, que encontramos na internet,
e do qual não temos informação nenhuma, apesar de nos parecer ter alguns
aspetos interessantes.
A – (1797),
“Portugal”, por William Faden
Neste primeiro mapa,
o Moinho do Diego surge entre as duas ribeiras, como já referimos. Contudo,
podemos perguntar-nos qual a sua importância nesta época. Surgem as principais
localidades grafadas, apesar de alguns erros de representação (Muge está
no lado errado da ribeira e o Porto de Muge está a norte de Muge). É ainda interessante
de verificar que podemos encontrar um lugar designado por “Muja”, que
possivelmente será o Paço Real da Ribeira de Muge, que à data da elaboração do
mapa já pertencia à casa dos Condes da Atalaia.
B – (1829),
“Portugal”, por S. Hall.
Neste segundo mapa,
um pouco mais detalhado que o anterior em termos de estradas, podemos constatar
mais alguns pormenores interessantes. Em primeiro lugar, passava junto ao
Moinho do Diego uma caminho, possivelmente secundário (tendo em conta que a
linha que o assinala é substancialmente mais fina que as outras). Este caminho
tinha origem no Escaroupim (aldeia avieira, onde existia um porto de travessia
do Tejo em barcas), e ia dar à estrada que conduz Almeirim a Coruche. Mais uma
vez surge o lugar de “Muja” neste mapa. A ser o Paço Real da Ribeira de Muge,
ou o Paço dos Negros como já devia ser conhecido nesta altura, está mal
assinalado, visto que este se encontra não à esquerda da via Almeirim-Coruche
(de que é herdeira a atual N114), mas à direita da via Almeirim-Lamarosa (a
atual EM578 que liga estas localidades, passando por Fazendas de Almeirim, Paço
dos Negros, Arneiro da Volta, Monte da Vinha e Zebro).
C – (1835),
“Portugal”, por Rest. Fenner.
Neste terceiro mapa
encontramos a representação do Moinho do Diego num mapa mais desprovido de
pormenores. Com efeito, não surgem aqui outros lugares que víamos nos
anteriores (como Almeirim, Santa Marta, Chouto, Lamarosa ou Coruche). Será isto
significado que tinha uma importância de maior, hoje para nós desconhecida? Poderia
ser (e isto é apenas uma suposição da qual não temos fundamento algum), um
lugar importante naquela via, como sítio de repouso e descanso, um pouco na
ótica das atuais estações de serviço das nossas autoestradas?
D – (1855), “Spanien, Portugal SW”, por Heinrich
Berghaus, Carl Flemming, Carl Sohr e A. Theinert.
Neste mapa aparece-nos
novamente o caminho que parte do Escaroupim. Contudo, neste caso, prossegue até
“Ponte dSoro”, ou seja, Ponte de Sor.
Estes quatro mapas
podem ter sido feitos a partir de outros, tendo por base o mesmo levantamento.
Cremos poder afirmar isso pelo simples facto de todos terem a mesma imprecisão
na representação de Muge, a vila que seria sede de concelho até à reforma
liberal de 1836: a localidade está representada na margem direita da Ribeira de
Muge, e na verdade encontra-se na margem direita. Contudo, apesar desta
“coincidência”, cremos que esta é uma possibilidade bastante remota, pela
quantidade de outros pormenores que há nuns e não noutros.
E – (1883), “Portugal
4”, por Letts, Son & Co.
Já neste mapa
encontramos Muge representada corretamente. Por outro lado, o caminho que no
mapa anterior conduzia o Escaroupim à Ponte de Sor, já não passa junto ao
Moinho do Diego, mas sim ligeiramente mais a sul. Será a mesma via representada
no mapa D, representada num local diferente? Ou será a via apresentada no mapa
B como saindo do Escaroupim para a Ponte de Sor, passando entre Lamarosa e
Erra, até Ferro de Vacas? Neste último caso, poderá não aparecer a via que liga
ao Moinho do Diego simplesmente porque, sendo secundária (como a consideramos
anteriormente), apenas aqui aparecem as vias principais?
Um facto curioso
neste mapa, que não poderíamos deixar de fazer notar, é a inclusão da
representação das linhas de caminho-de-ferro. Surge já a linha do norte, cujo
primeiro troço (Lisboa – Carregado) foi inaugurado em 1856 e em 1859 já chegava
a Santarém, e a linha do Leste, que ligava Abrantes a Elvas, concluída em 1863.
Por fim, este último
mapa, mandar-nos-ia a prudência da investigação, nunca utilizar. Porque nada
sabemos dele, pelo menos até à presente data. Contudo, ele tem alguns aspetos
sobre os quais não poderíamos deixar de refletir. Em primeiro lugar, surge
“Moinho do Diogo” e não “Moinho do Diego”, ou seja, a forma portuguesa do nome.
Poderá ser, por isto, um mapa posterior aos restantes, sendo o nome do lugar
pela linguagem já ter sido “aportuguesado”. Sobre isto, poderemos ainda aventar
uma teoria, reforçando contudo que não temos bases para esta, e não passam de um
mero exercício de suposições: a existência do nome “Diego” virá de um qualquer
sujeito de nacionalidade espanhola, que se fixou em Portugal, especificamente
neste local. Poderia ser o moleiro (que neste caso estaria ao serviço de um português),
ou o próprio proprietário?
Para além disto, há
ainda que ter em vista que as linhas de água das ribeiras não estão
apresentadas no mapa, pelo que se torna mais difícil estabelecer a correta
representação espacial dos lugares. Há um caminho que passa relativamente perto
do “Moinho do Diogo”, contudo, cremos que podemos reforçar aqui a teoria de que
a estrada que liga o Escaroupim ao “Moinho do Diogo” é uma secundária não
representada, e que as que estão a sair dali serão as mesmas do mapa B e E.
Bibliografia
e outras fontes
http://www.oldmapsonline.org
SERRÃO, Joaquim Veríssimo (2003). História de Portugal – Do Mindelo à
Regeneração (1832 – 1851), vol. VIII, 2.ª edição. S/l: Ed. Verbo.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo (1986). História de Portugal – o Terceiro
Liberalismo (1851-1890), vol. IX. S/l: Ed. Verbo.
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