Representação de D. Manuel I num vitral da capela do Palácio Nacional da Pena. Fonte: Matriz.Net
É este monarca que está ligado à (re)fundação do Paço Real da Ribeira de Muge.
Damião de Góis, na
Crónica de D. Manuel I, diz o seguinte:
“ … fez de novo os paços da ribeira de Muja por ali haver muita caça,
montaria que há naquela comarca, nos quais mandou por todo o serviço necessário
de mesa, cozinha, camas, leitos, roupas de linho para os que consigo levava.”
Por este excerto,
relativo ao Paço, parece-nos claro que a motivação principal para a sua
edificação seria a construção de uma residência de caça, de apoio às longas
estadas da corte em Almeirim. Porventura, já existira qualquer estrutura neste
local, uma vez que se refere que o rei “fez de novo”, ou seja, mandou
reconstruir algo.
Na primavera de 1511,
as obras já estariam em curso, e o local é visitado por Pedro Matela, que escreve
uma carta ao rei onde dá várias informações ao rei, nomeadamente que a
propriedade dos terrenos onde o monarca pretende implantar as suas “casas”
pertencem a Francisco Palha e Vasco Palha. Contudo, estes cedê-los-ão ao
monarca, concedendo-lhes ele uma tença. Assim, manter-se-á o Paço na mão da
coroa desde esta data até ao final do séc. XVIII.
Mapa do terreno a que se chamou "Paço dos Negros", que passou para os Marqueses de Tancos no final do séc. XVIII. Elaborado a partir da Carta Militar de Portugal, escala 1/25 000.
Com efeito, será a 30
de Agosto de 1790 que Paulo Soares da Mota, almoxarife do Paço Real, dará posse
a um novo proprietário: D. António Luís de Meneses, Marquês de Tancos. Os
marqueses de Tancos, para além de passarem a ser donos do paço em si, passam
também a ser proprietários de uma grande área de terreno, que em tempos houvera
pertencido à Coutada da Ribeira de Muge (iremos encontrar outras partes desta,
no séc. XIX, em posse de outros nomes da nobreza, como Pina Manique, o Conde
Sobral e mesmo na Casa da Alorna). A área de Paço dos Negros que passou a
pertencer ao Marquês de Tancos é aquela representada no mapa abaixo.
Em 1880 o paço é
arrendado pelos Condes da Atalaia aos seus empregados, Manuel Tomé Magriço e
Guilhermina Moreira.
Grande parte do “Paço
dos Negros” vai ser aforado no início do século XX, em pequenas parcelas, por
D. Fernando Manoel, 4.º Marquês de Tancos e 10.º Conde da Atalaia. Alguns
destes sê-lo-ão por Manuel Francisco Fidalgo (genro de Manuel Tomé Magriço). No
total, estes aforamentos perfaziam 596 hectares da área total da propriedade
(1069 hectares). Os 474 hectares restantes serão comprados precisamente por
Manuel Francisco Fidalgo em 1918, a D. Bernardina Manoel (Marquesa de Tancos,
Condessa da Atalaia, sobrinha e herdeira de D. Fernando Manoel).
Aspeto do pátio do Paço em 2009.
Quanto ao paço em si,
Manuel Francisco Fidalgo morre em 1944, sendo este dividido pelos seus filhos,
e depois netos. Algumas das parcelas foram sendo vendidas a terceiros, sendo
que a partir dos anos 90 do séc. XX, começou a autarquia a adquiri-los.
Bibliografia e outras
fontes:
EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de
Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.
VASCONCELLOS, Frazão de (1926). “O Paço dos Negros da Ribeira de
Muge e os seus almoxarifes”, separata da publicação Brasões e Genealogias.
Lisboa: Tipografia do Comércio.
Pretendemos ao longo deste ano de 2014, em que se completam os 500 anos da conclusão das obras do Paço Real da Ribeira de Muge, abordar 12 temas relacionados com este, um por cada mês do ano. Começamos com a sua origem e proprietários.
Clicar na imagem para voltar ao índice
Sem comentários:
Enviar um comentário