Ver
parte I aqui.
Tendo
em consideração os três conjuntos de moinhos de vento do concelho de Penacova
que falamos na primeira parte (Serra da Atalhada, Portela da Oliveira e
Gavinhos), assim como algumas das suas características específicas,
nomeadamente a pluri-propriedade, ainda que no mesmo conjunto, importa agora
refletir sobre os engenhos que temos hoje, assim como quais os caminhos que se
poderão traçar no futuro.
Em
primeiro lugar, há que ter em consideração que hoje em dia os moinhos têm o seu
valor de uso ultrapassado, ou seja, existem hoje meios mais eficientes de
produção de farinha para a alimentação humana. Mesmo a procura pela farinha
artesanal, pelas suas características, não seria por si só motivo suficiente
para colocar todos os engenhos em laboração constante, sobretudo em conjuntos
como aqueles que encontramos em Penacova. Importa assim encontrar outros usos
para estes elementos patrimoniais.
Interior dos engenhos da Serra da Atalhada,
recuperado para voltar a moer cereais.
Esta
busca por uma nova funcionalidade do património poderá ter graves consequências
para a integridade patrimonial. E no caso dos engenhos do concelho de Penacova,
conseguimos encontrar bons exemplos e exemplos menos bons. Contudo, antes de
entramos especificamente nestes casos,
importa refletir que outros usos poderão ser dados a edifícios moageiros,
quando a sua função inicial (a moagem), já não se torna necessária? Sem dúvida,
que a transformação de património in situ
deverá ser um dos caminhos. Por esta via, um engenho recuperado e aberto a
visitas, permitirá descobrir como funciona aquela tecnologia e a sua
importância em determinado período histórico.
No
entanto, será pertinente ter, como no caso da Serra da Atalhada, 21 moinhos,
praticamente alinhados e com cerca de cinco metros de intervalo entre si, recuperados
e a moer cereais? Será pertinente custear a manutenção destes? Estarão os
proprietários interessados em manter esta situação? Não nos parece que assim
seja. E ao fazê-lo, poderíamos afirmar que se estaria a enveredar pelo caminho
da designada “histeria do património”, ou seja, a quase obsessão de tornar tudo
património. Então, que outros usos podem ser dados para além deste?
Alinhamento de engenhos na Serra da Atalhada
Sem
dúvida que aquele que é mais comum é a transformação em habitação. Um conjunto
então, torna-se bastante apetecível para a instalação de um empreendimento. Não
nos choca (e esta é uma opinião muito pessoal) a adaptação de engenhos para
residências ou empreendimentos turísticos. Contudo, cremos que o termo correto
será precisamente “adaptação”. Não se pode faze-lo de qualquer forma, pois terá
sempre de ser colocada, em primeira instância, a integridade do conjunto.
Voltando
ao caso específico de Penacova, nomeadamente ao caso da Serra da Atalhada,
encontramos aqui aquilo que podemos considerar um bom exemplo. Assim, de todos
os engenhos, temos quatro deles sob alçada de uma associação local. Deste, um
foi recuperado para a moagem, e os restantes três foram adaptados para turismo.
No entanto, a sua recuperação exterior manteve a sua traça original, não
desvirtuando as características do moinho serrano. Para além destes, os demais
engenhos deste conjunto quando recuperados, apresentam igualmente o respeito
pela traça original, não ferindo o conjunto.
Interior
de um moinho, na Serra da Atalhada, recuperado para turismo de habitação.
Por
outro lado, encontramos os conjuntos da Portela da Oliveira e de Gavinhos, em
que o cenário já não será tão interessante assim. Aqui encontramos
frequentemente os moinhos rebocados a cimento portland, desvirtuando assim as
paredes em silharia, típicas do moinho serrano. Também é comum encontrar-se a
aplicação de azulejos, sobretudo para a colocação de dizeres que refletem, de
quando em vez, o nome ou a propriedade dos moinhos.
Moinho com paredes rebocadas - Gavinhos
Moinho
com azulejos aplicados
Há
a referir ainda, neste caso, o alargamento de um dos moinhos da Portela da
Oliveira, para a inserção de um espaço museológico: o Museu dos Moinhos de
Vitorino Nemésio. Este espaço alberga uma exposição com um espólio
interessantíssimo, do ponto de vista molinológico, e que vai muito além dos
moinhos de vento. Com efeito, para além de vestígios destes, encontramos aqui
também mós manuais e objetos ligados aos moinhos de água. Este é um outro uso,
que a nosso ver, não choca com a integridade patrimonial.
Museu
dos Moinhos Vitorino Nemésio
No
entanto, temos em conta que é difícil manter uma coesão arquitetónica ao nível
do conjunto, pois cada engenho tem um proprietário diferente. E os seus
proprietários deverão ter a liberdade fazer o que entenderem com aquilo que é
seu. Mas encontramos na Portela da Oliveira o mau resultado de intervenções nos
engenhos, que os desvirtuaram completamente. Uma boa solução seria a
regulamentação da intervenção nestes engenhos através dos planos de ordenamento
do território, nomeadamente com planos de pormenor. Com efeito, estes poderiam
prever as disposições em relação ao exterior, tipos de portas e janelas
permitidas, entre outros aspetos considerados pertinentes, à semelhança daquilo
que já acontece hoje em dia nos centros históricos.
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