Indo
na sequência da apresentação de um tema por mês neste ano de 2014 relativo ao
Paço Real da Ribeira de Muge, neste dia 7 de abril, Dia Nacional dos Moinhos, apresentamos
os moinhos que, de alguma forma, estiveram ligados a este local.
Carta militar – extrato da zona envolvente ao paço, com
todos os engenhos assinalados.
Aquando
a da sua visita, em abril de 1511, aos terrenos onde se estava a iniciar a
construção do paço, doados por Francisco e Vasco Palha ao rei, Pedro Matela (Contador
de Santarém), menciona a existência de três moinhos neste local. Estes moinhos,
posse dos Palha, são igualmente doados ao rei, concedendo-lhes ele uma tença de
dez moios de trigo anuais em retribuição. Um destes engenhos ficava junto ao
paço (já desaparecido) e os outros dois mais abaixo. São estes os que chegaram
aos nossos dias como o Moinho do Pinheiro (ou Moinho do Meio, no séc. XVI) e o
Moinho da Ponte Velha (ou Moinho Derradeiro, à época).
Em
1518 é titular do ofício de almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge Antão
Fernandes. Este recebe por parte do rei o direito de construir um moinho em
qualquer lugar que lhe conviesse no Vale João Viegas. Em 1537 o Moinho da Ponte
Velha é aforado a Luís da Mota (3.º
almoxarife), sem pagamento de renda, uma vez que o engenho ruíra no ano
anterior e este se comprometia a mante-lo operacional. A cedência gratuita
deste engenho volta a ser atribuída ao almoxarife do Paço em 1546, com a
incumbência de o manter operacional. O cargo era ocupado pelo genro de Luís da
Mota, Estevão Peixoto. Esta doação é confirmada em 1568 por D. Sebastião.
Últimos destroços do moinho que se
encontrava próximo da cerca do pomar real. Foto de 2006.
Por
volta de 1700 seria o moinho que se encontrava junto da cerca do pomar real propriedade
do almoxarife do paço Paulo Soares da Mota I. Após a sua morte, passou para a
sua mulher, Josefa Maria.
Chegaremos
ao início do séc. XX com cinco moinhos nas imediações do Paço Real da Ribeira
de Muge (três na Ribeira de Muge e dois no Vale João Viegas), e Manuel
Francisco Fidalgo como proprietário do paço e dos dois engenhos situados no
Vale João Viegas. Estes eram designados por “minholas”, em virtude de serem
engenhos de pequena dimensão, com apenas um casal de mós. Uma das “minholas”
seria, possivelmente, o moinho construído por Antão Fernandes, no séc. XVI.
Contudo, o que é facto é que uma delas foi herdada por Manuel Francisco Fidalgo
da sua sogra, Guilhermina Moreira.
Carta militar da zona do paço. A vermelho dos moinhos que
já desapareceram e a verde o Moinho do Fidalgo. A azul e tracejado, a possível
localização da cerca do pomar real.
Quanto
aos outros três engenhos, encontravam-se nesta época já na posse de outros
proprietários, estando já desafetos ao paço. Hoje existem ainda dois (já
parados), e daquele que se situava mais acima no curso da ribeira,
desapareceram as suas últimas ruínas recentemente.
Para
poder obter um rendimento superior ao que tinha com as suas “minholas”, Manuel
Francisco Fidalgo mandou edificar um outro engenho, já próximo da sua casa, sob
um tanque que em tempos tinha abastecido o paço de água. É o Moinho do Fidalgo,
que chegou aos nossos dias junto às ruínas do Paço Real da Ribeira de Muge,
sendo o mais “jovem” elemento da construção. As duas “minholas” já
desapareceram.
Moinho do Fidalgo, na atualidade.
Quanto
ao Moinho do Fidalgo, atravessou todo o séc. XX, cumprindo a sua função até aos
anos 80. Conta com cinco casais de mós, tendo sido mecanizado em meados da
centúria, levando a três casais de mós fossem adaptados a um motor a diesel. Foi
primordial a sua atividade no período de racionamento imposto pelo regime
salazarista durante a Guerra Civil de Espanha e a 2.ª Guerra Mundial. Este
contrabandeou a produção de farinha e o descasque de arroz durante este
período, tornando-se vital para o abastecimento destes géneros alimentares às
populações dos locais mais próximos.
Bibliografia
e outras fontes:
EVANGELISTA,
Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana.
S/l: Edição do autor.
Jesuína
Fidalgo (fonte oral).
Manuel
Cipriano (fonte oral).
Manuel
Fidalgo (fonte oral).
TOMÉ,
Samuel (2012). “Moinho do Fidalgo: a conservação de uma (i)materialidade”, Molinologia Portuguesa, n.º4. S/l:
Etnoideia.
TOMÉ,
Samuel (2012). O Património Molinológico como fator identitário e vetor do
desenvolvimento económico: o caso da Ribeira de Muge. Dissertação de
Mestrado em Gestão e Programação do Património Cultural apresentada à Faculdade
de Letras da Universidade de Coimbra.
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