Segundo
Frei Luís de Sousa, o Convento da Serra é fundado em 1501 a partir de uma
“pobre ermida, situada no meio de uma charneca erma” (Sousa, 1866: 484-485). A
origem desta é lendária, como falamos aqui.
Ao
ser visitada esta ermida por D. João II, este manda faze-la de novo, num sítio
onde o acesso fosse mais facilitado aos devotos, visto que o monte era alto e
trabalhoso de subir. No entanto, o monarca morre antes de conseguir concretizar
esta ideia. Contudo, deixa-a expressa no seu testamento, sendo que D. Manuel I,
seu cunhado e primo, que lhe sucedeu no trono, tratará de a mandar edificar.
Gravura de D. João II, de autor desconhecido (1725).
Museu da Guarda (Fonte: Matriz.Net)
D.
João II houvera recomendado que fosse edificada esta nova ermida junto de uma
determinada fonte e que tivesse acomodação para um ermitão. Tendo
sido o monarca informado que ali tinham acontecido alguns milagres, por
veneração da imagem, fez esmola da capela à Ordem de S. Domingos, em 1501, com
a condição de aí fazerem uma missa diária e manter continuamente três
sacerdotes. D. Manuel I, para além de mandar fazer a casa, tratou ainda
de a decorar ao gosto da época. Com efeito, já em 1498 Pantelão Dias houvera sido
nomeado pintor da Ermida. A 27 de novembro 1514 é transportado para o aqui um
relógio pelo pintor Jorge Afonso, possivelmente ornamentado por este. Para além
disso, mandou o monarca executar um retábulo, entre 1515 e 1518, onde se
retratava com a rainha D. Maria e os seus filhos, que ainda à época em que Frei
Luís de Sousa escreve ainda durava.
Aquando
de uma das suas visitas à ermida, o príncipe – infante D. João (futuro D. João
III), pede ao monarca e seu pai que aí pudesse edificar um mosteiro à Ordem de
S. Domingos, pedido a que o monarca prontamente acedeu. Durante a construção do
convento, o infante D. João pediu ao embaixador do rei em Roma algumas graças
para os que visitavam o local, ajudassem no edifício ou os frades com esmolas. Assim,
o Papa Leão X “no que tocava ao espiritual de indulgencias, procedia com tanta
estreiteza, que lhe não deu mais que cinquenta anos, e outras tantas quarenta
de perdão: e isto somente em quatro festas da Senhora, que são Purificação,
Anunciação, Assunção, e Nascimento: e na Epifania, precedendo confissão, e
esmolla para o convento nos que as ouverem de ganhar” (Sousa, 1866: 486).
Peça escultórica com o Brasão da Ordem de S. Domingos
(1871). Autor desconhecido. (Fonte: Martiz.Net)
Ao
ser construído o convento, mais que uma casa monástica, este tinha igualmente
como objetivo dar aos nobres e reis guarida aquando das caçadas, com aposentos
que Frei Luís de Sousa descreve como “casas recolhidas e bom fogo nas chaminés”.
O convento tinha uma cerca, horta e nora. A fonte que D. João II mencionara
houvera secado, e os frades andavam a ir à água ao Tejo, em talhas de barro. A
nora servia para regar a horta, de decoração e fonte artificial, porque a sua
água era salobra e não se podia beber.
Custódio
(2008) menciona que o Convento da Serra é fundado em 1520, a partir da
ampliação da ermida ali existente. Cremos que esta será a data de conclusão da
obra ou de dedicação/ sacralização do convento.
Bibliografia:
CUSTÓDIO, Jorge (2008). Almeirim
– Cronologia. S/l: Edições Cosmos.
SOUSA, Frei Luís (1866). História de S. Domingos, Livro III, 3.ª edição. S/l: Tipografia
Panorama.
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